quarta-feira, abril 26, 2006

25 de Abril sempre! Até quando?...

Ao comemorar 32 anos sobre o 25 de Abril de 1974, haverá algo de novo a dizer? Nas manifestações, com as mesmas caras de sempre, mas cada vez mais velhas? Nos discursos, sempre iguais, mas ditos por pessoas diferentes? Nas comemorações, cada vez mais discretas e menos participadas?

Se se perguntasse às pessoas qual é a primeira coisa que lhes vem à cabeça quando pensam no 25 de Abril, não duvido que a resposta mais comum fosse: "É feriado!".
Tal como quase todos os outros feriados, este é apenas mais um dia de folga. Para ir à praia, se estiver Sol. Para ir ao centro comercial, se chover. Para dormir até mais tarde. Para ficar em casa a ver televisão.
Tal como quase todos os outros feriados, este é cada vez menos provido de significado. Salazar até nem era um tipo mau, qualquer dia volta a ter uma ponte com o nome dele. Marcelo Caetano deve ter sido treinador de um clube qualquer, não me lembro bem. A Pide é uma família que vive lá para os lados do Chiado, e que está com alguns problemas para renovar a casa.

É preciso inovar! Não basta dizer que a liberdade é uma coisa boa. Os mais novos não entendem isso, pois não sabem o que é viver sem ela. Logo, não lhe conseguem dar o devido valor. Façam-nos sentir como era a vida no tempo da ditadura. Os professores não precisam de muita imaginação para aproveitar um dia de escola para "simular" alguns acontecimentos e cenas do dia a dia pré 74.
A prisão de quem diz mal do regime. O assassinato de quem ousa candidatar-se à margem do governo. A censura. As cargas policiais. A pobreza. A ignorância. Fado. Fátima. Futebol.

O 25 de Abril não se pode tornar apenas mais um feriado. Porque o passado é essencial para construir o futuro.


Nota 1: não gostei de ver Cavaco Silva sem cravo na lapela. Não sei se pretende abolir a expressão "Revolução dos cravos", mas renegar assim um símbolo do 25 de Abril é feio.

Nota 2: também não gosto das manifestações usadas como arma de arremesso ao governo. Só serve para afastar as pessoas que não se identificam com o PCP, a CGTP, o BE, etc. O 25 de Abril deve ser de todos, e não ser apresentado como um exclusivo da esquerda!

2 comentários:

Em 27 abril, 2006 23:42, Anonymous Anónimo disse...

O Cavaco foi coerente e prudente. É preciso ver do lado dele, do seu percurso, do lugar que ocupa e quem representa. Se tivesse aparecido com um cravo vermelho, seria alvo de muitos mais comentários e alguns tentariam ridicularizá-lo.
Por mim, aprovo que tenha optado pela gravata vermelha que a sua Maria lhe escolheu...

 
Em 28 abril, 2006 11:22, Blogger naïf disse...

É exactamente devido ao lugar que ocupa e quem representa que eu acho que devia manter a tradição do cravo.
O discurso "social" também não cola com o seu passado, mas isso não parece incomodar ninguém.
(A este propósito, ver o artigo de Vasco Pulido Valente no "Público" de hoje.)

 

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