Dar ou não dar, eis a questão
Para quem vive em Lisboa ou noutros centros urbanos, depara-se frequentemente com gente a pedir. Pedem dinheiro para uma sandes, para o café, para o leite dos filhos. Pedem uma moedinha, uma ajudinha, qualquer coisinha.
É o cego que toca concertina, é o velho sem pernas com ar de quem morreu faz anos, é o jovem manco que arrasta a perna junto ao semáforo, é a cigana com 3 putos sujos e ranhosos agarrados à saia, é o romeno com o bebé nos braços, é a velha louca que só diz asneiras.
Confesso que me sinto sempre no terrível dilema de dar ou não dar.
Devo dar porque eles precisam? Porque eu tenho e eles não? Porque aquela criança tem ar de não beber leite há 3 dias? Porque não quero sentir que não ajudei quem precisava?
Ou não devo dar para não os incentivar? Porque esse papel cabe ao Estado? Porque prefiro fingir que eles não existem?
Umas vezes dou, outras não. Mas nunca fico contente com a minha decisão...
2 comentários:
A mendicidade é um fenómeno que só tende a aumentar... Por muito que tentemos ajudar com uma série de euros, nunca resolvemos a situação de base, apenas remediamos. E não podemos deixar as pessoas pensarem que podem (sobre)viver à custa da generosidade dos outros. Por isso, e por muito que às vezes me custe, não dou dinheiro. No entanto, há que combater este sentimento de mau estar com uma participação mais interventiva na sociedade: visitando quem está hospitalizado e não tem visitas, conversando com o idoso do nosso bairro que vive sozinho, ajudando a adquirir cadeiras de rodas a quem precisa e não as tem ... Afinal não são só os que pedem que precisam de ajuda e o acto de darmos um ou dois euros a alguém não nos pode desresponsabilizar desta nossa obrigação social. E obviamente, dado ser eu a argumentar, estas acções devem ser ainda mais obrigatórias para mim (o que nem sempre é verdade) ...
Um abraço
"não podemos deixar as pessoas pensarem que podem (sobre)viver à custa da generosidade dos outros"
O problema é quando essas pessoas só conseguem viver assim. Há muitos desgraçados que vivem à margem do sistema, muito devido a problemas psicológicos. Sem a nossa ajuda nem sequer conseguem comer. E é esse o meu dilema.
Concordo que a nossa participação, nomeadamente com organismos que ajudam essas pessoas, será o melhor modo de ajudá-las. Mas isso não impede algum desconforto quando temos de dizer, cara na cara, "Não dou".
Eu sei que muitas destas pessoas se aproveitam desse sentimento de culpa, mas há sentimentos que não se conseguem evitar.
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